Por que Allah cria-nos com diferentes níveis de provisão e inteligência, estilo de vida e psicologia? Por que Ele permite privação e pobreza entre facilidade e luxo? Essas questões, além da relação com o Destino, têm também relação na compreensão o meio Divino de agir.
Devemos Tentar Compreender Allah
Antes de discutirmos essa questão, devemos salientar que todas essas questões surgem de não compreendermos o Ser Divino. Se tivermos tantos desejos para aprender tudo a respeito de Allah como fazemos a respeito dos astros do cinema ou figuras do esporte, se tivéssemos acesso às fontes necessárias das quais podemos aprender algo a respeito do nosso Mestre, se estudássemos o Livro do Universo de acordo com o critério estabelecido pelo Alcorão, e se seguíssemos os princípios pregados pelo Profeta para o estabelecimento de uma verdadeira vida se fizéssemos tudo isso, conseguiríamos reconhecer a dimensão imaterial das coisas e eventos através do prisma da nossa consciência. Se conseguíssemos atingir esse nível, não iríamos precisar fazer essas perguntas. Mas, à medida que a ciência nos isola da religião, e a meditação saudável é substituída por vida mecânica e informação de massa, continuaremos a fazer essas perguntas e achar difícil compreender o nosso Criador.
Allah Controla Tudo e Faz o Que Quer
Considere as nossas alegações de propriedade e controle sobre o que consideramos como nossa propriedade. Que participação temos na produção do alimento que consumimos? Cada bocado de alimento requer da existência de todo o universo. Dado isso, e se podemos alegar propriedade e controle sobre a nossa propriedade privada em que temos tão pouca participação, por que Allah, o Criador e o Único Proprietário do Universo e de tudo que contém, não tem controle total de Sua propriedade?
Os Nomes de Allah, o Todo-Poderoso, possuem Diferentes Manifestações
O Nome do Agraciante supre os seres com o que necessitam para viver. O Nome de Benevolente capacita os enfermos se recuperarem.
Tudo é Benção de Allah
Não podemos questionar o Todo-Poderoso Allah pelo que Ele dá ou não dá. Lembre-se que Allah não o criou como um elemento sem vida, uma planta ou um animal, mas como um ser humano. Também, como há sempre pessoas mais ricas e mais saudáveis do que você, há também pessoas mais pobres e mais doentes que você. Então, com respeito à riqueza e saúde, considere aqueles que são mais pobres e mais doentes que você. Com respeito a honestidade e à moralidade, conhecimento e altruísmo, veracidade e generosidade etc., rivalize com os são melhores que você.
Suponha uma pessoa rica dá a três pessoas destituídas, um apartamento, uma ampla casa e um palácio, respectivamente. Tem aquele que recebeu o apartamento direito de pedir satisfação ao rico porque não lhe foi dada uma ampla casa ou um palácio? Não deveria ele, ao contrário, agradecer o seu benfeitor pelo apartamento? Similarmente, tudo que temos é de Allah. Assim, quer sejamos ricos ou pobres, capazes ou incapacitados, saudáveis ou doentes, somos obrigados a agradecer a Allah.
Nós Plantamos Aqui e Colhemos na Outra Vida
Este mundo é uma arena de provas, um lugar onde procuramos atingir o estado apropriado para a Outra Vida. Isso não é fácil. Como um alfaiate desenhando o melhor traje possível para um cliente, cortando e costurando o material e então fazendo o cliente prová-lo, Allah, Todo-Poderoso, faz-nos revezar em diversas condições para nos “modelar” para a Outra Vida.
Somos como matéria prima que tem de ser refinada. Como há muitos tipos de minerais a nossa vida social requer que tenhamos diferentes níveis de inteligência, força física, e sensibilidade. Dependendo do produto desejado, se ouro ou diamante, carvão ou cobre, diferentes (e mais exatos e necessários) processos e métodos devem ser aplicados para a matéria prima. Similarmente, cada um de nós pode necessitar um teste diferente, prova, ou treinamento para ser refinado e encontrar o destinado nível final de logramento. Isso significa que Allah sujeita a cada um de nós a diferentes níveis de sofrimento e aflição para elevar-nos a um estado apropriado para o Outro Mundo. Este mundo é também o reino de problemas. Quando Allah advertiu Adão para não comer da árvore proibida, Ele lhe lembrou:
“Ó Adão, com certeza este (Satanás) é tanto teu inimigo como de tua esposa, por isso não deixe que ele conduza o dois para fora do Jardim, e fiquem angustiados. Certamente nele não hás de passar fome nem nudez. E não hás de passar sede nele, nem sofrerá o calor do sol.” (20:117-119).
Isso significa que iremos experimentar fome, sede, cansaço e privações no mundo. Isso deve ser assim, porque neste mundo nós semeamos as sementes que serão colhidas na Outra Vida. Aqueles que buscam apenas satisfazer os seus desejos devem provavelmente ser aqueles a quem Allah dirigirá, na Outra vida, as seguintes palavras:
“Consumistes na sua vida mundana suas partes (de) puros, coisas saudáveis, e se eles totalmente (sem considerar o vencimento da Outra Vida, e assim tomaram no mundo a recompensa de todas as suas boas obras). Portanto, este dia, você é recompensado com a punição de humilhação por causa de sua arrogância desdenhosa sobre a terra contra tudo bem, e por causa de sua transgressão (dos limites estabelecido por Deus).”
Por outro lado, aqueles que suportam fome, sede e outras privações aqui, pela causa de Allah, serão admitidos no Paraíso, e recebidos assim pelos anjos:
“Adentrai, pois! Aqui permanecereis eternamente.” (39:73).
“Comei e bebei com satisfação, pelo bem que propiciastes em dias passados!” (69:24).
Mais Mercês Significa Maior Responsabilidade
À medida que Allah lhe concede mais graças e mercês, a sua responsabilidade cresce. Por exemplo, a caridade é compulsória para os ricos, enquanto os incapazes, cegos, ou doentes não têm de empunhar armas pela causa de Allah. Para expressar total grau de piedade, o Profeta Jesus disse:
Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno. (Mateus, 5:27-30)
Portanto, não sabemos se ser rico ou pobre, saudável ou doente, é melhor para nós. E, o Alcorão nos diz: “É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Allah sabe, e vós ignorais.” (2:216).
Além do mais, muitas pessoas ricas não conseguem saborear a comida e a bebida ou a beleza terrena tanto quanto as pessoas pobres fazem, devido à sua falta de apetite ou péssima saúde. Apesar de a pobreza não ser algo a ser desejado e, portanto, de acordo como foi afirmado pelo Profeta Mohammad, pode causar mesmo descrença, é difícil alegar que os ricos estão sempre mais felizes do que os pobres. Ninguém pode afirmar que pessoas da Idade Média, quando os níveis de vida eram relativamente baixos, eram menos felizes do que os dias atuais das pessoas ricas. A felicidade repousa em satisfação espiritual, não em ter as facilidades materiais para satisfazerem os desejos físicos.
Outro ponto para ser destacado é que ninguém pode se lamentar pelas privações. Quando comparadas com o tempo de boa saúde, conforto e felicidade, tempo de doença ou privação geralmente não são nem mencionados. Além disso, nós geralmente vivemos desatentos às mercês que recebemos. Por exemplo, o sol nasce diariamente e envia-nos seu calor e luz gratuitamente. Nunca estamos privados do ar sem o qual morreríamos instantaneamente, apesar de nada pagarmos por ele. Todos os eventos naturais necessários para a produção da chuva ocorrem sem a nossa ajuda. O que devemos fazer é agradecer a Allah por essas e todas as outras mercês (nenhuma delas podemos prover a nós mesmos), pois a maior parte da nossa vida (gasta com saúde e conforto), e não reclamando a Allah por doença, privação ou falta de algumas bênçãos adicionais.
A igualdade em recursos naturais, bem como em capacidades físicas e intelectuais, não deve ser considerada um desejável objetivo social, pois é incompatível com as exigências da vida social. Essas diferenças, bem como aquelas no temperamento individual, disposição e preferência sustentam a variedade das ocupações humanas, um elemento fundamental da vida social humana. Essa variação induz as pessoas necessitarem umas das outras e estabelecerem boas e mútuas relações.
Porém, essas relações devem ser baseadas na justiça e amor mútuo, respeito, compreensão e cuidado. Não devem proporcionar opressão, usurpação e fraude, ou para as baixas classes sociais hostilidade e desrespeito. De acordo com Said Nursi (falecido em 1960), um sábio, pensador e ativista muçulmano, que iniciou uma maior renovação islâmica na Turquia na primeira metade do século vinte, as duas maiores razões para todas as revoluções e revoltas dos poucos últimos séculos são as atitudes: “Não me importo se os outros morrem ou passam fome enquanto eu estiver satisfeito”, e “Você trabalha para eu poder comer.”
O Islam ataca a primeira atitude com o zakat, a taxa obrigatória dos muçulmanos ricos, principalmente para a redistribuição entre os pobres e necessitados. O Islam ataca a segunda atitude proibindo todas as transações baseadas nos juros. Além disso, o Islam exalta a virtude de se ajudar os pobres e os necessitados e recomenda moderação, e vida disciplinada. As vidas do Profeta e de seus quatro sucessores políticos imediatos (conhecidos coletivamente como os califas corretamente guiados) são excelentes exemplos para a elite muçulmana seguir.
O Propósito do Infortúnio
Antes de fecharmos, devemos frisar que mesmo indesejável e apavorante em aparência, a aflição e a doença geralmente levam a bons resultados. Da mesma forma que punimos os nossos filhos para treiná-los, amputando um órgão gangrenado, ou administrando remédios do veneno de cobra, a maior parte das aflições ou doenças geralmente produzem bons resultados.
O mergulho do gavião contribui para a agilidade do pequeno pardal e desenvolve suas habilidades para escapar. As pessoas podem ser prejudicadas pela chuva ou eletricidade ou pelo fogo, mas ninguém realmente os amaldiçoa. O jejuar pode ser difícil, mas proporciona ao corpo energia, atividade e resistência. O sistema de imunidade da criança geralmente se fortalece através da doença. O exercício não é fácil, mas é sempre essencial para a saúde e o fortalecimento do corpo. O nosso espírito é refinado e adquire o estado de merecer o Paraíso através da adoração e meditação, bem como através de doença, sofrimento e privação. Allah nos concede uma enorme recompensa por pequenos sacrifícios. A privação e o sofrimento promovem-nos para um grau espiritual mais elevado e seremos recompensados no Outro Mundo com a generosidade que não podemos nem imaginar. Por essa razão, os profetas sofrem as mais graves privações e dificuldades, e são seguidos pelos sábios religiosos e outros crentes, cada um de açodo ao seu grau de fé.
A privação, a doença e a calamidade causam os pecados dos crentes para serem perdoados e os lembra estarem alertas ao pecado e as seduções tentadoras oriundas de Satã e dos seus desejos carnais. Eles também nos ajudam apreciar as bênçãos de Allah, expressar a nossa gratidão e encoraja os ricos e os saudáveis a ajudarem os pobres e os doentes. Aqueles que nunca experimentaram fome não conseguem avaliar devidamente as condições dos famintos. Nem nós que nunca ficamos doentes darmos conta da vida das pessoas doentes. Assim, privação, doença e calamidade podem estabelecer relações mais es- treitas entre diferentes grupos ou classes de pessoas.
A calamidade e o sofrimento aumentam a nossa resistência às privações da vida e nos treinam a nos preservarmos e aguentarmos. Eles também separam os patrocinadores fortes e sinceros de uma causa de outros que são patrocinadores por conveniência ou de outras razões (impróprias).
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